A maquiagem atualmente é algo que toda mulher tem em suas coisas. Pelo menos uma peça que seja. E muitos rapazes também adquiriram com o passar do tempo. O batom vermelho é sem sombra de dúvidas, uma das peças que todo mundo tem e acha bonito. Mas não é nem de longe uma peça atual e se você pensa que a cor surgiu nos lábios de Marilyn Monroe, você está extremamente enganada.
No Egito Antigo, colorir os lábios de vermelho era sinal de poder, com Cleópatra usando e as mulheres de alto escalão começaram a copiá-la. A cor era feita a partir de ingredientes venenosos, mas depois descobriram que podiam retirar o pigmento carmim de um inseto e essa técnica é usada até os dias atuais.
Já no século 16, na Inglaterra, a rainha Elizabeth I, depois de contrair varíola e ficar com marcas na pele, aparecia com sua pele do rosto pálida e os lábios em um tom vibrante de vermelho, ela conseguia esse tom através de uma mistura de cera de abelhas e plantas e toda monarquia inglesa seguia seus passos.
Porém, no século 18, a cor foi marginalizada na Inglaterra, sendo tão mal-visto que se criou uma lei que proibia o uso da cor nos lábios das moças. O marido poderia anular o casamento se descobrisse que a esposa estava pintando o rosto.
Na França, no século 19, mesmo sendo considerado uma “falta de educação”, era bastante comum se ver atrizes com os lábios vermelhos.
Foi no século 20 que a cor de lábios realmente ganhou força e se tornou um movimento político, mais especificamente em 1912, Elizabeth Cady Stanton e Charlotte Perkins Gilman, ativistas e defensoras da causa feminina usaram batom vermelho na Passeata pelo Sufrágio (direito ao voto) em Nova Iorque.
Ainda no começo do mesmo século, criado pelo americano Maurice Levy, o item foi embalado em tubos de metais, esses que usamos até hoje. Para você ter uma ideia, ele era acomodado em papel de seda, o que impedia que fosse levado para todos os lugares.
“No início do século 20, a Belle Époque trouxe consigo uma beleza frágil e pálida. Mulheres ‘de respeito’, que deveriam casar, usavam maquiagem para atingir esse conceito. Por ter um aspecto considerado teatral e atraente na época, o batom vermelho era reservado às atrizes e outras mulheres que fugiam dos padrões”
Afirma Maria Alice Ximenes, ilustradora e doutora em História da Moda pela Unicamp.
Clara Bow, estrela do cinema mudo, deixou a cor escura em evidência, seus lábios eram pintados com cores escuras em um formato que ficou conhecido como “arco do cupido”, com objetivo que parecessem vermelhos e firmes nos filmes preto e branco.
No fim dos anos 30, com a chegada da Segunda Guerra Mundial, os batons vermelhos eram lançados remetendo a tensão vivida na época e também intensificando a força feminina, com nomes como: “vermelho luta” e o “vermelho patriota”.
Atrizes de Hollywood como Marilyn Monroe, começaram a aparecer com os lábios escuros e vermelhos, tornando ainda mais popular e trazendo uma sensualidade a cor.
Atualmente, ainda existe um certo preconceito, algumas mulheres são taxadas como “putas” ou de menos valor a usar a cor nos lábios e até hoje, o ato das sufragistas é válido, afinal, se tornou uma forma de resistência.
Apesar da popularização dos lábios vermelhos, muitas mulheres se sentem constrangidas pelo assédio que recebem por conta da cor (lembrando que quem assedia é o culpado, não o batom vermelho).
O tema é tão polêmico, que a youtuber JoutJout fez um vídeo sobre o assunto e teve bastante repercursão em todo mundo digital e trazendo um debate sério sobre o assunto.
Ao usar o batom vermelho, muitas mulheres se sentem livres e donas do próprio corpo.
A cantora Clarice Falcão deixa isso bastante claro no clipe da regravação da música Survivor, das Destiny’s Child, onde ela fala sobre a libertação de um relacionamento abusivo e usa o batom vermelho para simbolizar tal libertação.
É um pouco chocante saber que em pleno século 21, ainda temos que debater sobre uma coisa tão banal como a cor dos lábios de uma mulher. Como diria JoutJout, já não era pra estarmos debatendo sobre os direitos dos robôs?!